A primeira colheita de trigo realizada no Ceará gerou resultados considerados surpreendentes. O plantio, ainda em fase experimental, produziu a colheita de 8,5 toneladas de trigo em uma área de 1,6 hectare, o que representa uma produtividade de 5,3 toneladas por hectare na primeira colheita.
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Segundo o produtor Alexandre Salles, pelas características do solo no estado, o plantio teve que se ajustar às condições locais. “Tivemos alguns desafios como adaptar a plantadeira e colheitadeira, buscamos fertilizantes e remédios próprios para trigo, mas podemos sim dizer que foi um sucesso, não só pela produtividade como também pelo curto prazo de duração do plantio até a colheita”, comenta.
Uma das vantagens da produção no estado foi o tempo curto entre o plantio e a colheita. O ciclo de produção no Ceará teve uma duração de apenas 75 dias, enquanto nas principais regiões produtoras do Brasil o ciclo entre plantação e colheita ocorre entre 140 e 180 dias.
Segundo Alexandre Salles, a produtividade do trigo obtida no Ceará se mostrou superior à da região Sul, que gira em torno de 2,4 toneladas por hectare, e pouco abaixo da obtida na região Centro-Oeste, de cerca de 5,5 toneladas por hectare. Ele afirma que agora o plano é fazer alguns ajustes, expandir a área e tipificar novos produtos da cadeia do trigo.
O projeto
Os primeiros experimentos de cultivo de trigo no Ceará começaram em 2019, com o objetivo de analisar a viabilidade de produção do cereal no estado, considerando as condições de solo e clima.
A pesquisa realizou os primeiros experimentos com quatro variedades de cultivares BRS264, BRS354, BRS404 e BR18 para analisar a época mais adequada para semeadura, comportamento das cultivares, o ciclo e incidências de doenças e pragas.
Foram realizados pequenos testes exploratórios em dois municípios do Ceará, em regiões de baixa altitude e outra de alta altitude para avaliação das cultivares. “O primeiro resultado foi excelente, o ciclo se fechou em 75 dias e as cultivares que tiveram melhor performance foi a BRS264 e BRS404, mostrando que o trigo tinha ampla adaptação para ser cultivado no Nordeste”, destaca Osvaldo Vasconcellos, chefe-geral da Embrapa Trigo.
A fase experimental será expandida com a introdução de outros materiais que ainda estão sendo pesquisados pela Embrapa. Assim que essa etapa for concluída, esses materiais serão selecionados e testados em diferentes mercados para estudar a sua viabilidade para atender a indústria moageira. Com isso, poderão ser gerados produtos cultivados que sejam adaptados para biscoito, macarrão, trigo branqueador e panificação.
“O resultado foi muito promissor, o que deu um grande ânimo à Embrapa porque vemos que os estados do Nordeste, que têm altitude acima de 600 metros como o Piauí, Ceará, Alagoas e outras partes dessa região, apresentam boa aptidão e têm condições de luminosidade e de temperatura que atendem à demanda da produção de trigo”, comenta Vasconcellos.
Hoje, o Nordeste importa quase 100% do trigo que consome, proveniente da Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Canadá e Rússia, além de importar de outras regiões do Brasil. Com os resultados positivos obtidos no Ceará, o Brasil pode equilibrar a balança comercial em trigo, acrescenta ele. A Embrapa já está realizando pesquisas experimentais em Alagoas e pretende expandir os estudos para os estados de Pernambuco, Piauí e Maranhão.
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